sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

É preciso união e vontade para tocar apitos

"Pessoas inteligentes discutem idéias;

pessoas comuns discutem fatos;

pessoas medíocres discutem pessoas."

(não sei quem é o autor)

 

 

 

Há um pouco mais de dois anos, entrei para listas de discussões sobre a questão indígena. tenho postado notícias, apelos, petições e dado também alguns pitacos quando a indignação me sufoca.  Mas desta vez quero expressar aqui a minha própria opinião, baseada no que tenho visto e ouvido.

 

Nas listas, tive a oportunidade de conhecer ótimas pessoas, de vários estados. Professores, lideranças, estudantes, arqueólogos, jornalistas... enfim, uma gama muito rica de vivências e opiniões.  Um indigenista me disse uma vez que o problema do índio brasileiro é que ele se acostumou a enxergar unicamente a sua própria comunidade.  Não tenho vivência ou conhecimento suficientes para jurar que esta afirmação é correta, mas sou levada a acreditar nela pelo número de vezes que li, nestas mesmas listas, o pedido de UNIÃO vindo de Marcos Terena (respeitável figura dentro desses nossos grupos).

 

Com muita alegria, vejo hoje grupo de jovens interétnicos se formando.  Minha afilhada Caroline Taukane organiza encontros de jovens estudantes indígenas  em Cuiabá, minha querida Yré Kaiabi é ativista constante do encontro de mulheres do Xingu, meu compadre Ataíde vem promovendo o Congresso de Jovens Indígenas (SP) que tem por finalidade orientar os jovens índios a não caírem no "canto da sereia" do álcool e das drogas, por meio de palestras e atividades esportivas.  Não posso me esquecer da AJI - Ação dos Jovens Indígenas de Dourados (cenário de morte pela fome e descaso), os rapazes Umutina que estão tentando ressuscitar a cultura extinta,  e ainda o m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-o Indios On-line.  Sei que há ainda mais desses grupos atuando em pleno vapor.

 

É muito bom ver os jovens nesse caminho. Traz esperanças para o futuro.

 

Mas e o presente?  O que acontece com as crianças subnutridas, envenenadas por agrotóxicos, assassinadas, enquanto esses jovens não ficam mais velhos e ocupam cargos onde possam efetivamente mudar as coisas?  Por que deixar para o futuro, nas costas de jovens que já fazem muito diante de um cenário tão adverso, o que pode ser feito (ou pelo menos começado) hoje?

 

Amigos – chamo-os de amigos porque assim considero a quem compartilha dos mesmos ideais que eu – por curiosidade, andei olhando  no Orkut as comunidades relacionadas aos problemas e questões indígenas, bem como as opiniões nos fóruns de discussões.  A parte boa é que  a quantidade de indígenas acessando esses sites de relacionamento é enorme! Taí uma boa tese acadêmica. É um momento único. Um fenômeno social.

 

Mas a parte chata é ver que quem mais se movimenta pró-indígenas são os juruás (não-índios).  Eu sei que muitos falam um monte de besteiras, muitos ainda têm idéias estereotipadas a respeito do índio, muitos só conhecem índios de livros... enfim, há muita desinformação ou meia-informação.  Há também muitos interesses. Pessoas que querem se promover à custa da causa.  Por favor, me corrijam se eu estiver falando bobagem, mas já ouvi dizer que após as últimas eleições todos os apoiadores da invasão ao terreno de Camboínhas (área nobre em Niterói – Rio de Janeiro) se retiraram, deixando os Guaranis à sua própria sorte. O que foi aquilo então? Um oba-oba?  Mais uma vez eu peço que me corrijam se estiver errada. Aliás, neste caso, eu torço para  estar errada mesmo.

 

Quem mais deveria falar pelo índio é o próprio índio. 

 

Os juruás deveriam ser apenas os figurantes nessa história. 

 

Marcos Terena brincou dizendo que o índio quer apito, mas acho que os índios precisam é de um apitasso! Então, vamos explorar os espaços que são concedidos. Aproveitar os jornais, os sites de relacionamento, os canais concedidos nos sites da FUNAI, do Governo Federal, nas ONGs (sérias!)... há bastante campo e muito a ser semeado ainda!

 

Marcos Terena não pode ser apenas um retrato na parede – uma figura lendária dissociada da realidade. Coloquem em prática o que ele diz. União é preciso.

 

Eu, por minha vez, fico aqui no banco dos "figurantes" torcendo por todos, mas principalmente pelas crianças indígenas que irão herdar o resultado do que for feito HOJE. 

 

Lembrem-se que daqui a algumas décadas, VOCÊS serão os ancestrais. E o que deixarão como legado?

 

Comecei meu email com aquela citação, cujo autor desconheço, porque talvez nem todos compartilhem das mesmas idéias. Mas me reservei o direito de manifestá-las e até gostaria de ouvir as opiniões contrárias, porque acho que este é um espaço para a livre manifestação, troca de idéias e aprendizado.

 

 

Um grande abraço com o desejo de um ano realmente novo.

 

Muita luz em todos os caminhos.

 

Ana Kristina S. Ribeiro

Nenhum comentário:

Postar um comentário